quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Histórico de Roberto Mallmann

Ontem, 11 de Novembro de 2015, na Câmara de Vereadores de Cruzeiro do Sul foi aprovado o Projeto de Lei que denomina a Estrada Geral de São Bento de RUA ROBERTO MALLMANN, pessoa que muito fez para a comunidade e seus moradores. Recebeu esta homenagem como forma de agradecimento e reconhecimento pelo serviço prestado em prol a comunidade.

HISTÓRICO DE ROBERTO MALLMANN

Roberto Mallmann nasceu em 04 de Janeiro de 1905, em São Bento, Lajeado, hoje município de Cruzeiro do Sul, filho de Carlos Mallmann e Anna Bohn. Faleceu em 23 de Janeiro de 1975.

O pai Carlos Mallmann, um dos primeiros moradores da localidade, estabeleceu-se na antiga Fazenda São Bento, em 1909, adquirindo terras de Guilherme Lenhard e de sua mulher Luisa Lenhard. A família Mallmann é uma das famílias pioneiras da localidade, assim como, entre outras, as famílias Bohn, Kolling, Weiler e Olbermann. Roberto Mallmann era o segundo dos quinze filhos do casal pioneiro.

Casou em 21 de Outubro de 1931, com Maria Stein, filha de Henrique Stein e Anna Anastácia Lenz. Maria nasceu em 15 de Setembro de 1908, e faleceu em 24 de Agosto de 1990. Estão sepultados no Cemitério Católico de São Bento, Lajeado.

A marcenaria

Roberto foi agricultor e marceneiro. A marcenaria ficava na atual Estrada Geral, pouco adiante da casa de seu filho Gaspar Mallmann – sentido Santa Clara do Sul. Por um tempo, trabalhou na oficina seu irmão Roberto Mallmann, ajudando a fazer carroças.

Primeiramente as maquinas eram tracionadas por bois, os quais ficavam no primeiro piso da marcenaria, e ali mesmo eram tratados durante o dia. Eram eles: o Colorado, de pelos ruivos, e o Ponteiro, de pelos brancos e pretos. 

Colorado era um boi comprido, baixo e com muita força. Descansava ali mesmo. Toda vez que Roberto Mallmann dava algumas pisadas mais fortes, Colorado já sabia que tinha que levantar e caminhar em circulo, fazendo a roda girar. Ele era como um motor. Mais tarde a luz chegou à marcenaria, e os bois foram substituídos por um motor movido à energia elétrica, trazido de São Paulo. Em sua marcenaria, Roberto fabricou diversos utensílios domésticos, agrícolas e outros. Destaca-se a fabricação de caixas funerárias. Diversas vezes, passou madrugadas confeccionando os caixões, após o falecimento de algum morador da localidade.

Ele tinha um controle de tudo o que fabricava. Tudo anotado em livros, os quais foram queimados por Maria, sua esposa, em sua velhice, quando não tinha mais ciência da importância dos livros.

Serviço Militar

Roberto prestou Serviço Militar em Uruguaiana, durante 18 meses. Não serviu no ano em que era obrigado. Apresentou-se em anos mais tarde. Trabalhou na marcenaria do quartel, fazendo, entre outras coisas, rodas de carroças. Seu filho, Gaspar Mallmann, relata que naquele período o exército recebeu novos fuzis. Doze apresentavam defeito. O superior de Roberto trouxe até ele o armamento defeituoso para que os canos fossem aproveitados para ralador de mandioca. Certo dia de chuva, Roberto pegou os fuzis parados no canto, todos oriundos de uma fábrica de Berlim, e começou a mexer neles, até conseguir consertá-los. Isso mesmo! Tinham um pequeno defeito. Quando havia consertado todos, procurou seu superior. Não foi fácil conversar com ele, mas tomou a coragem e foi. Disse a ele que todos os fuzis estavam funcionando. A resposta de seu superior foi: - “Eu achei que você era somente marceneiro, e não mecânico de fuzil”. Como forma de agradecimento, Roberto recebeu, de seu superior, um fuzil desses de presente. 

Como levar uma arma dessas para casa? Roberto se deu ao trabalho de desmontar a arma toda, peça por peça. Isso em dias de folga. Enrolou cada peça em panos, costurados com uma velha máquina de costura que se encontrava ali na marcenaria. Assim enrolas, deu-as aos seus amigos. Isso facilitaria levar as peças para casa.  Certo dia, Roberto teve conhecimento de que um colega dele estava preso no quartel. Foi perguntar ao colega o motivo da prisão. O colega preso respondeu que seu pai tinha, em casa, um fuzil com uma peça estragada. E ele queria levar essa peça a seu pai, para que consertasse o fuzil danificado. Ao sair do aquartelamento, porém, sua mala foi revistada e a peça foi encontrada. Desde então teve que cumprir pena de três anos. Sabendo disso, Mallmann foi até seus amigos com os quais estavam as peças de seu fuzil. Recolheu-as, montou a arma novamente, e escreveu uma carta para seu superior, entregando, com ela, seu fuzil. Nela constava que ele não queria ser preso como seu colega, por isso desistia do presente que recebera. 

Antes de ser dispensado do quartel, porém, em vez do fuzil, Roberto recebeu, de presente, cem munições. 

Roberto deixou seu legado no quartel. Na marcenaria fez um armário de uma beleza extraordinária. Um armário enorme. Nele tinha uma bandeira brasileira com dois fuzis, tudo feito de madeira. Quando seu neto - filho mais velho de Gaspar Mallmann - fez o alistamento militar, Gaspar disse a um sargento que seu pai havia deixado uma lembrança no quartel: um armário, e atrás dele, havia deixado as iniciais de seu nome e ano de seu nascimento. O sargento ficou surpreendido, pois esse armário ainda se encontrava no quartel. “O mundo é pequeno”, disse o sargento. Tratava-se do armário dos oficiais. Segundo o sargento, esse armário já tem sua história, e de lá não irá mais sair. Roberto teria trabalhado durante quatro meses no armário. Precisou de material especial para fazê-lo. Para ele próprio adquirir o material necessário, teve acesso à documentação do seu superior, com autorização escrita. Ao voltar para casa, levou consigo um martelo e um alicate, cuja marca era “Vergiss Mich Nicht”.

A energia elétrica na comunidade

Roberto Mallmann colaborou de forma exemplar, nas instalações de energia elétrica em sua comunidade. Informou-se com Ireno Hoffmaister, pessoa de muita inteligência, o qual falou que seria possível a instalação da rede elétrica, mas o custo seria alto. Mallmann passou de casa em casa perguntando quem gostaria de ter eletricidade em sua residência. Dois moradores recusaram, mas quando tudo estava pronto, instalado, também adquiriram. Muitos não tinham condições. O transformar de energia e os acessórios (fios e isoladores) foram comprados em conjunto com os moradores, porém, não tinha, naquele momento, o valor correspondente ao material. Aloisio Lenz vendeu três cabeças de gado, mas o dinheiro não foi suficiente. Mallmann, então, deu, como garantia, o registro de suas terras para a aquisição do material. Os organizadores foram: Gaspar Mallmann, Alberto Carlos Mallmann, João Hickmann e Carlos Zart. Foram para Porto Alegre adquirir o material: Gaspar Mallmann e Ireno Hoffmaister. Antes disso passaram no Banco do Brasil, em Lajeado, para o financiamento. Começaram num domingo de manhã: Roberto e seu filho Gaspar. Primeiramente mediram a área por onde passaria a alta tensão. Retornaram na parte da tarde, pelas 14 horas. Almoçaram, e seguiram os trabalhos. Foram até a residência de João Hickmann, de onde começaria a rede elétrica. O morador Christian Bohn também queria energia em sua casa, mas se não funcionasse como ele queria, ele não pagaria a instalação. Dentro de casa, cada um arcava com suas despesas. E, aquele que residiam próximo à estrada pagaria igual ao que residia mais afastado. Grandes rolos de fio foram descarregados na residência de Roberto, onde também, Ireno Hoffmaister e seus ajudantes hospedaram-se, recebendo alimentação sem nenhum custo. Enio Nonnenmacher e Miguel Ruschel foram os que mais buracos fizeram para a colocação dos postes. Eles receberam pago separadamente pelo trabalho. Os buracos foram feitos com profundidade de 1,2m para a rede elétrica normal, e 1,5m para a alta tesão.

Haviam comprado um transformador de energia de 50 KVA, o mais potente na região. Ele foi instalado no fim da atual Estrega Geral da localidade, nas imediações da hoje Capela São João Batista. Duas semanas após sua instalação, Roberto Mallmann recebeu a visita de Aloisio Lenz, o qual estava insatisfeito com luz dentro de sua casa. Era necessário acender uma vela, pois a luz não iluminava mais o suficiente. Roberto então mandou seu filho Gaspar ir, de bicicleta, até o transformador para verificar se havia algo anormal. Quando retornou, disse a seu pai que lá só tinha mais um pequeno transformador, do tamanho de uma lata de leite. Na época, a prefeitura de Lajeado fornecia a energia. No dia seguinte, Mallmann foi para Lajeado para relatar a Bruno Born, então prefeito municipal, o sumiço do transformador da comunidade. Roberto e seu filho Gaspar foram até o comercial Fleck, em São Bento. Lá, lavaram seus pés e embarcaram no ônibus em direção a Lajeado. Chegando lá, seu filho já havia avistado o transformador da comunidade, gerando energia para a prefeitura municipal. Ao serem atendidos pelo prefeito, faceiro com a forte luz gerada pelo novo transformador, Gaspar apresentou a documentação do transformador e exigiu que o mesmo voltasse ao seu lugar correto, em, no máximo, 24 horas. Sua solicitação foi atendida e o prefeito pediu desculpas pelo ocorrido. Os funcionários da prefeitura haviam tirado o transformador da comunidade, pois, segundo o prefeito, os colonos não precisavam de um transformador com tanta potência. Roberto ainda não estava em casa, e o transformador já havia sido devolvido. Meses mais tarde, o transformador foi atingido por uma descarga elétrica, deixando-o em vários pedaços. A prefeitura então forneceu outro, mas menor. Nunca mais tiveram um transformador com tanta potência na comunidade.

A comunidade

Entre outras várias atividades feitas em prol da comunidade, destaca-se a colaboração de Roberto na aquisição de terras e na construção da Igreja Católica “Três Santos Mártires” de São Bento - da terraplanagem até a colocação da última telha. Como marceneiro, cortou toda a madeira que compõe o forro da igreja. Frequentou essa igreja, e no cemitério da mesma, descansa, juntamente com sua esposa.

Viveu durante 33 anos em feliz matrimônio. Tiveram os seguintes filhos:

1. Alma Olivia Mallmann, casou-se com Zeno Francisco Zart.
2. Luisa Mallmann, casou-se com Arlindo Emílio Dessoy.
3. Gaspar Mallmann, casou-se com Celiria Wolschick.
4. Jorge Silvestre Mallmann, casou-se com Maria Hilária Zart. Em segundas núpcias, com Vera Lúcia Bald.
5. Therezinha Mallmann, casou-se com Antônio Nicolau Ulsenheimer.

Os inúmeros serviços feitos por Roberto Mallmann na comunidade estão na memória dos antigos moradores de São Bento. Mallmanns Robert, assim chamado pelos moradores da comunidade alemã, foi e continua sendo um ponto de referência da comunidade.

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- O histórico de Roberto Mallmann foi elaborado à partir do depoimento de seu filho, Gaspar Mallmann.

- Elaboração e tradução do alemão para o português: Orestes Josué Mallmann.

- Revisão do texto: Norma Theolina Scheeren.

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Outras fontes:

- Cemitério Católico de São Bento, Lajeado.

- Arquivo Particular de Orestes Josué Mallmann.

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